28.11.06

todos os donos da verdade

primeira cena: ônibus incendiado na avenida brasil.
subiram armados, ordenaram que todos os trabalhadores descessem - ao que não ficou ninguém, e queimaram mais um coletivo. estavam armados, bem vestidos (gap, forum e diesel incluídos) e alegaram que a ação se tratava de represália. contra quem não esclareceram.

segunda cena: ônibus chegando à barra da tijuca. o condutor escolhe o melhor lugar para aterrissar e descarregar as quase últimas encomendas nos respectivos pontos. descreve uma linha reta, já que o caminho da frente está livre por uns bons cinquenta metros. subitamente, um veículo do sistema de transporte alternativo (pode-se ler kombi, van, topicão, lotação ou mini-catacorno), acelera e se põe no caminho do nosso veículo. o motorista (carteira assinada por enquanto) é obrigado a frear bruscamente para não machucar ninguém do lado de fora. dentro, além do susto, as colunas vertebrais são obrigadas a
suportar uma torção cuja força ésuperior ao que o inmetro recomenda. uma pequena concessão. os passageiros abandonam o veículo e passeando pela calçada apinhada de coleguinhas, pedintes e novíssimos empreendedores urbanos, podem ver o motorista da van sendo interpelado pelo do ônibus. o momento é fugaz como um estampido. o topiqueiro é visto movimentando bruscamente os músculos da face, a mandíbula e a língua. ele está falando mas não se escuta sua mensagem.
se estivéssemos no fantástico, programa jornalístico e aperitivo de uma grande empresa de comunicação, três garotos surdos-mudos seriam convocados e facilmente decodificariam o script apenas pelos lábios: "vai tomar no cu!!!". momentos antes do incidente, os clientes do topiqueiro podiam ver decalques de propaganda espalhados pelo interior do carro. alguns deles: "deus é fiel", "veículo rastreado por jesus", "se deus é por nós quem será contra?" e "eu amo a sua esposa".

terceira cena: pequena palestra informal de um novíssimo empreendedor urbano
"você viu aquele ônibus queimado lá na brasil? você viu?
irmão, aquilo foi os camelô que fizeram.
tá de bobeira? tem motorista que acha que é dono do ônibus e não deixa camelô entrar pra vender.
caraca! pára de esculacho. outro dia eu paguei passagem e o motorista ficou embarreirando. os passageiro tudo estava a meu favor. 'deixa ele vender! deixa ele vender!'
esses caras não têm noção. eu quero ver fazer isso...
(uma cliente pergunta o preço de uma das peças)
pois não, madame! um real três pacotes!
eu quero ver fazer isso quando eu tiver com o trabuco na mão. eu quero ver.
não vou ter pena não.
(a platéia se contrai comovida)
vão me pegar mas eu não tô nem aí. pego cinco anos lá dentro às custas do governo, comendo e bebendo. e depois saio na maior. réu primário.
pois não, madame.

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