6.10.04

calma, minha gente, que o leão é sem dente

bangu, subúrbio do rio de janeiro.
na boca da madrugada, escuto, ao lado de vivi, um ronco grave. no sobressalto, desligo o ventilador. talvez esteja rangendo as engrenagens e possa começar um incêndio.
o ronco continua e a visão pela janela não esclarece nada. só há a rua, o terreno baldio em frente, onde se instalou um circo sarapa (que cobra dois reais por sessão pra adultos)
não tem relógio por perto. dali a algumas horas, ou a alguns quinze minutos, o vendedor de plano de saúde vai começar a funcionar.
a sucessão de roncos graves prossegue. não há mais a sensação de perigo. mas a curiosidade é atroz. que porra é essa? podem-se arriscar alguns palpites. uma máquina de fazer sorvetes, depenadores de carros cortando alguma lataria, algum dorminhoco ressonando violentamente...
momentos depois há os latidos de cachorros misturados, piorando o trabalho de investigação.
encontro o celular da vivi. marca cinco e alguma coisa. a nossa alvorada será às cinco e quarenta. conto ansiosamente o nosso resquício de descanso para perguntar à vivi que ronco é aquele.
o celular toca a campanhia e PRONTO!
"meu amor! meu amor!"
e vão um beijo no rosto e depois os afagos nos cabelos, respondidos com sofreguidão, preguiça e resistência. a nossa trilha sonora: os mesmos roncos de antes.
"meu amor! meu amor! que barulho é esse?"
"ahnnn! que barulho???"
"escuta!... esses aí, ó!"
"ah, é o leão do circo!"
meu deus do céu! como não imaginei isso?
um pobre leão africano passando suas noites de caçada, preso numa jaula de circo em bangu.
vivi diz ainda que sua mãe foi ao circo na sessão do sábado passado e viu que o leão estava desnutrido, com as costelas aparecendo.
ao saírmos, corri meus olhos por trás das grades do circo, mas não vi o leão.
que pena, meu lion zion!
que pena!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial