5.5.06

buffet liberado


eu era um executivo, um tecnocrata. havia uma greve e a companhia para qual eu trabalhava estava envolvida nas negociações, como parte fundamental, ou talvez parte única do lado do patronato. confusões, incidentes com feridos ou até mesmo mortes aconteceram em virtude dessa greve.
a situação se agravava, mas logo conseguiu-se marcar uma reunião definitiva, que obteve sucesso e pôs fim a greve. eu fui peça importante nessa negociação. assim que a reunião tivera sido marcada, eu tomara uma imediata providência. chamei meus assessores e ordenei: contratem um buffet.
enredo ingênuo e simplista, os grevistas adentraram no que seria o pátio de alguma fábrica e se refestelaram com a comida. depois foram negociar. aceitaram nossas propostas. sabia-se que, com fome, todo mundo fica agressivo.
enredo ingênuo e simplista, nenhum superior ou par meu usurpara minha idéia. o crédito pelo estratagema do buffet fora todo meu. congratularam-me. aumentaram meu ordenado.


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esse pesadelo me fez lembrar de uma época em que eu participava de uma lista de discussão na internet a respeito da ordem dos músicos do brasil, em que se contestava sobretudo a legitimidade dessa autarquia inútil.
naquela época, havia um restaurante na barra da tijuca (rj), que, simplesmente fornecia, às segundas-feiras, um verdadeiro banquete para os músicos que lá aparecessem e apresentassem a sua carteirinha da omb (falsa ou verdadeira, vencida ou vigorando). o motivo para isso era que, aparentemente, os mesmos músicos que comessem de graça, também se apresentassem, garantindo assim o entretenimento de todos naqueles dias. já que nem todos era músicos. simples, né? e nós, punk rockers, dançadores de pogo, gritadores, pagodeiros e punheteiros entrávamos e nos afogávamos no buffet liberado. só faltava jogar tomate e batata frita uns nos outros. isso era verdade.
como a maioria dos participantes da lista de discussão eram artistas profissionais, politizados, conscientes e engajados, enviei uma mensagem avisando sobre a boca livre. deixei bem claro que todos tinham que portar sua controversa carteirinha da omb. não me iludi, pensando que iriam chover e-mails me perguntando o endereço de tão caridoso estabelecimento. não tardou muito para que os petardos chegassem me chamando de palhaço, ignorante, esfomeado, pelego, procheneta, lorpa, cupincha, etc. até de fofo me chamaram. acho até que se me encontrassem na rua e me reconhecessem fariam que nem essa turma aí de cima, da foto que ilustra o artigo.
galhofas à parte, tanto tempo se passou e a omb está aí, botando banca. muitos músicos sérios, trabalhadores, amadores e profissionais ainda têm a "obrigação" injusta e infundada de pagar suas respectivas anuidades.

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