procurando emo
estou perdendo a paciência com a televisão. aliás, quem é que tem paciência ainda?
a netcat não dá mais vazão às minhas exigências. um cara falando francês num canal, carro explodindo no outro, uma mulher com seios falsos mais adiante, corridas de cavalo, campeonatos de golfe, leilões de jóias falsas, etc.
como resultado acabei praticante de um não tão novo esporte: o surfe de controle remoto.
dia desses, numa manobra radical, levei um caixote e caí na mtv. era estréia de "um minuto para o fim do mundo", do cpm22. tem tempo isso.
eu já tinha notado que as letras das bandas nacionais, pelo menos as de guitarras predominantes, de um tempo pra cá vinham retratando uma realidade da juventude/adolescência tristonha demais. algo como uma angústia de punheteiro ou coisa parecida.
então, fiquei vendo o clipe do cpm e a coisa ficou mais evidente. um mancebo sentado à beira da cama, cabisbaixo, pegando o onipresente skate (esse não pode faltar) e jogando no espelho. ele estava mesmo desesperado. coitadinho!!!
fiquei chocado me perguntando se a juventude é angustiada assim mesmo?
olhando hoje para o passado eu digo que a adolescência foi a pior coisa que me aconteceu. era a fase do "se quer tudo mas não pode nada", ainda mais sem grana.
aderi à seita joy division. quer coisa mais angustiada que isso? mas aí as cores do reggae me salvaram. tornei-me um adepto rasta mas não renego a banda de ian curtis. se fosse rastrear suas influências, estaria na clínica do doutor eiras.
mas até onde isso é retrato da realidade ou marketismo de banda para arrebanhar fãs?
acabei escrevendo um libelo contra o cpm22. ficou nisso:
"eu não sou assim como falam de mim/
não colabore com minha tristeza/
eu só preciso mesmo de um estopim/
para eclodir a minha alegria e a minha esperteza/
eu vejo as flores/
minha menina/
eu vejo tudo à cores/
mesmo sendo um cachorro sem faro para encrencas..."
aqui em jacarepaguá, há o elam que, embora abrigue o ensaio aberto, um evento para vários estilos de música, tem produzido vários shows com bandas desse perfil emocional.
ingenuamente e sem perceber as características das bandas envolvidas nesses eventos, tentei encaixar os djangos num dia desses e fui ejetado da minha pretensão. então, caiu a ficha. depois da lambada, do poperô, do axé e outras, estávamos vivendo a ditadura do emocore. essa constatação deve fazer um ano ou mais. de lá para cá, a coisa recrudesceu.
ao injetar as músicas dos djangos na tramavirtual, reparei que quem liderava o top ten de downloads era o fresno. isso por semanas, meses e anos. o mesmo fresno está lançando agora um disco novo cuja música de trabalho se chama "cada poça dessa rua tem um pouco de minhas lágrimas".
silêncio
eu vou chamar a companhia de água e esgoto.
acompanhando o popload, blog de lúcio ribeiro, um "entusiasta" da cena emocore, a gente fica conhecendo nomes como panic! at the disco. o mesmo escriba viajou recentemente pelos estados unidos e europa e reparou que a galera gótica lá tá bombando.
a tristeza parece estar na moda. estou pensando até em comprar um rímel. e um sobretudo.
aí, só para ser da turma do contra, eu começo a sentir saudade da marra do chorão. ou das escatologias do raimundos. ou da fumaça do planet hemp.
apesar de toda a biodiversidade atual, a monocultura musical impede que o espaço disponível no mainstream seja dividido igualmente. então, dança-se uma música só durante o verão e no inverno há uma dieta pronta para outro esquema beneficiário. a internet aqui em pindorama, aos poucos, vai mudando isso. por enquanto, grupos relativamente pequenos têm acesso a músicas de todos os confins.
e bonito mesmo, seria ver essa juventude sem a pecha de maria-vai-com-as-outras. educada, auto-determinada, engajada e consciente. isso fica para outras estações.