24.8.05

roubaram minha sandocha

um sanduíche de espinafre com muzzarela, tão frugal quanto o meu ânimo em ser funcionário de empresa. hora do lanche: 19 horas, o mesmo da ocorrência. local: 9º andar, o mesmo que abriga o refeitório dos esfomeados de prestadoras de serviços, subsidiárias, tomadoras de dinheiro público e campeãs de reclamação no procon e anatel. cena tétrica: um saco plástico rasgado e uma tupperware vazia. o quê?!?! putaquipariu! roubaram minha sandocha!
o sanduíche vira um carro popular, desses que são levados enquanto se visitava a padaria ou a escola do filho.
verdadeiro transtorno. além do lanche levaram o doce da colega e quebraram sua garrafa. outras histórias surgem: "outro dia roubaram meu hamburguer e só deixaram o feijão e o arroz!", diz o colega de barbicha. "levaram meu strogoboffe", "...e as minhas empadinhas", "os croquetes da sicrana". um outro se exalta: "pô, isso é falta de colegolismo (sic)!!!"
comportamento de psicopata, saí vagando pela rua. pensei em ir visitar a toca de assis ou a são martinho, para a qual meu pai um dia deu contribuição por telefone. deixa pra lá.
mas psicopata mesmo é quem sabota o lanche dos colegas trabalhadores. o que se passa na cabeça do infeliz? e em seu estômago?
boletim de ocorrência: 125846/2005

23.8.05

dub-oper�riuzzz

pinto boy

dez da manhã na edgard werneck, carregando minha carcaça de quase 100 kg, encontro pinto boy, meio desolado, no playground de seu prédio esperando a ambulância, quer dizer, o ônibus passar. uma lesão no nervo ciático o obrigara a sair da cama antes do meio dia, para ir à fisioterapia. por causa disso, estava muito puto.
pinto boy a.k.a. andré pintinho é vocalista e guitarrista do stellabella, banda aqui de jacarepaguá com a qual eu sempre me emociono quando estou nos shows. ele é cara aí do centro na foto ao lado.
o problema no nervo foi causado por um pulo que pintinho dera em algum show. sedentário, segundo o próprio, o esqueleto despreparado para extravagâncias não agüentou e descontou no ciático.
é engraçado que pinto boy é meu vizinho mas eu só fui conhecer esse figura no garage. na época, ele estava substituindo o guitarrista do beach lizards, extinta banda carioca que tinha nervoso na bateria. nesse dia vi que pintinho era um ótimo guitarrista e tinha estilo. na volta, pegamos carona com ele, eu , nervoso e eduardo plestch, que é o dono da outside cds. foi uma das caronas mais divertidas da minha carreira de sem-carro. lembro que passando pela lagoa vimos carros num pega dando cavalinho de pau quase em cima de nós.
na avenida atlântica, nervoso gritava para os travestis : "tem piru!!!!" e eles baixavam o cós das saias e mostravam que sim. logo depois um carro emparelhou e pudemos ver uma garota no banco do
carona massageando violentamente os próprios seios, providencialmente desnudos. nessa hora, nervoso institivamente tentou alcançar o outro carro com a mão passando por cima de pintinho que estava dirigindo, ao mesmo tempo em que gritava alucinado "chupa pintinho!!! chupa !!!".
o carro então acelerou e nos deixou. a gente se escangalhava de rir com o nervoso dando esporro no pintinho porque ele havia deixado a mulher ir embora.
alguns minutos depois, pintoboy me deixava na porta de pindorama village são e salvo.
depois de muitos anos, fui encontrar pintinho no elam tocando com o china e o diego, já no stellabella.
é isso aí.
saúde para o pintoboy.

radical reggae

muito antes do herbert vianna ter escrito a letra de "luis inácio e os ______ picaretas", onde ele entre outras indignações declarava que "(...)se essa palhaçada fosse na cinelândia/ ia juntar gente pra pegar na saída/ fazer justiça uma vez na vida(...)", os kamundjangos já haviam feito um raggamuffin intitulado "radical reggae", que pregava inocentemente a formação de um grupo de extermínio voltado exclusivamente para a educação de políticos. para os dias atuais a letra continua valendo.

"eu não agüento qualquer tipo de qualquer mandamento/
eu não agüento qualquer tipo de qualquer juramento/
eu não agüento qualquer tipo de qualquer promessa/

se a vida é só essa/
se o amor não me amamenta/
o leite é sempre muito pouco/
ao contrário do suor/
sempre em derramamento/
e o que é pior que nunca dá para o sustento/
não me deixam opção/
sem essa de "revanchismo não!"/
estamos nesse pelotão pra fazer uma lista com o nome de pessoas /
que nunca nos fizeram grande coisa /
coisa boa /
coisa à toa /
fazer uma faxina que aqui nunca se viu /
em escritórios /
câmaras e /
senados /
o esquadrão da morte mais eficiente do brasil"

21.8.05

em recente evento social

descarrego

- a senhora não acha que isso aqui merece uma sessão de descarrego?
ela ficou olhando para mim, sem entender muito bem do que eu estava falando. ela, a funcionária avançada do departamento de recursos (des)humanos. sempre que precisamos de alguma orientação ela nos mandar dar um pulinho na sede. putaquipariu! a sede fica a uns quinze minutos de passadas vigorosas. vai ver que ela pensa que somos personagens do filme "matrix", que demos um salto vagabundo e saimos voando pelos ares.
eu a chamei para falar do ambiente da enorme sala da nave-mãe. nunca ouvi tantas lamentações dos colegas. reclamações contra as cobranças, os prazos, os índices, o corte de uma folga no meio da semana útil. tem gente que chega aqui e começa a sentir dor de cabeça e indisposição. fiquei imaginando que uma nuvem de catarro espiritual - resultado do rancor, do cansaço, das preocupações, desgastes, frustrações, esses sentimentos metabolizados do dia-a-dia, paira sobre as cabeças dos sub(estimados) funcionários da nave-mãe dessa que é umas maiores empresas de telefonia do universo. o contato diário e continuado das pessoas mais sensíveis com esse muco resulta em dores por toda a alma.
a primeira coisa que eu imaginei foi em trazer um pai-de-santo para fazer uma sessão de descarrego, mas ao saberem da idéia a ala evangélica da nave-mãe logo protestou e ameaçou uma greve. desdobrei a idéia de um evento ecumênico com a presença de um padre, um pastor protestante, o pai-de-santo, um escritor de livro de auto-ajuda de sucesso, um engenheiro da força de vontade e uma estrela da televisão. talvez a mesma empresa que nos presenteou com réguas e canetas de graça, pudesse fazer algo pelo bem-estar da sua mão-de-obra, essa cambada de esfomeados que espera ansiosa o primeiro dia do mês.
aproveitei que a representante do rh estava presente apresentar minha idéia. porém, ela não levou muito a sério minha pergunta-proposta. com um leve sorrisinho disse que poderia levar a idéia adiante. eu pensei até em sugerir que ela anotasse no lenço que ela usa para assoar o nariz, para não correr o risco de perdermos uma sugestão tão valiosa.
os dias vão passando e o time de técnicos que ingressou na nave-mãe em março de 2004 já não é mais o mesmo. quem sobreviveu resiste incentivado pela informação dada pelo capitão-do-mato de que há uma corja lá fora doida para entrar aqui ganhando a metade do salário.
obrigado, senhor slavedriver, o senhor sabe mesmo causar entusiasmo na equipe toda.

12.8.05

talvez em breve

(pelo monitor da tv)
(...)lula, em discurso no palácio do planalto, acaba de renunciar à presidência da república. emocionado e às lagrimas disse que a elite ganhara mais uma vez e que o projeto de um brasil novo fica congelado para ser requentado pelas próximas gerações.
(corta para o carro oficial em que o presidente e dona marisa estão singrando as alamedas e deixando o planalto, acompanhados ao fundo por populares)/

(visão apenas do garçon)
fernando henrique cardoso levanta e faz questão de ele mesmo de abrir a champanha. nesse momento alguns dos presentes como o senador baiano antonio carlos magalhães, o presidente do pfl jorge bornhausen e o ex-deputado roberto jefferson também se levantam e erguem suas taças.
fernando henrique cardoso: "ao fim da ilusão de que esquerda nesse país pode fazer algo".
demerval, o garçon, pode escutar várias gargalhadas.
jefferson se vira para alguém que está sentado na mesa à sua esquerda: "zé! deixa de bobagem! vem brindar com a gente", no que o também ex-deputado josé dirceu deixa a cadeira e pega uma taça, sendo abraçado fraternalmente por jefferson.
o celular de dirceu toca e o garçon o escuta pronunciar um nome estranho: danúbio.
a peguena reunião continua.
demerval se afasta em direção à copa. está confuso e cismado. acha que conhece aqueles senhores de algum lugar.

11.8.05

tenha piedade

sempre tive uma capacidade muito grande de nutrir uma compaixão aguda por situações ou pessoas. foi assim com os desenhos do pinóquio, com os quais chorei muito. ou quando acompanhei meu pai, um homem forte e bruto, numa ida até a babilônia e uma forte gripe o atingiu deixando-o mal e fazendo com que ele até reclamasse do ônibus lotado, que nos levaria de volta para casa. e toda vez nos rodízios de massa quando recuso as ofertas dos garçons que trazem os pratos à bolognesa. fico com pena deles, os garçons. já senti pena até de uma camisa que minha mãe havia feito para mim, com estampas de estrelinha e que não me agradara muito. toda vez que via a camisa no cabide uma culpa me assolava.
quem também já sentiu isso?
pois é.
acompanhando o noticiário sobre a crise política (crise múltipla), notei que começo a nutrir esse terrível sentimento por marcos valério. ele mesmo, o carequinha distribuidor do mensalão. já havia escutado que ele passou por uma depressão, que fora abandonado pelos amigos(????) e que estava isolado.
terça-feira (09/08) ao ser perguntado na cpi dos correios sobre sua atual situação financeira ele responde: "quebrado".
agora à noite eu via a gravação de seu novo depoimento à cpi do mensalão. surgiu uma nova situação embaraçosa para ele: dinheiro ilegal no exterior. inquirido sobre essa nova complicação ele dá de ombros e se mostra resignado. se alegasse 'o que é um peido para quem já está todo cagado?' ninguém iria achar grosseria.
finalmente quando sai nos corredores e é cercado por repórteres abutres, alguém lhe pergunta se tem medo de terminar como pc farias ao que ele responde categoricamente que sim.
coitadinho.
em dois shows dos djangos eu ofereci uma música, nossa e de gutz!, para marcos valério. justo uma letra que fala sobre queima de arquivo. o nome da música é "cabra marcado". pô, que isso não seja uma previsão.
sendo otimista posso até formular um "bem feito" e acreditar no ditame "aqui se faz, aqui se paga". mas a tradição que quer embicar um acordão para livrar a cara de todo mundo, me diz que daqui a algum tempo, o seu marcos valério vai estar por aí, livre e aliviado. orgulhoso por ter vencido mais um desafio na sua vida e recompensado por ter assumido a operação logística dessa tramóia toda sozinho.

8.8.05

como faria daniela mercury

soube de uma vez em que minha banda preferida, o mano negra, tocou para quase ninguém em brasília. o show durou duas horas, segundo fiquei sabendo, e os caras tocaram no estilo "amarradão". foi no ano de 1992. fica difícil imaginar a cena, pois eles haviam acabado de tocar aqui na lapa, em dois dias seguidos para uma multidão enlouquecida.
foi nisso que pensei, quando vi que a casa da matriz não ia bombar ontem. no começo do ano passado, fizemos uma de nossas melhores apresentações, justo lá, e eu pensava em dar um repeteco. mas como já dizia galvão bueno "há o dia da caça e outro do caçador".
de fato, a casa não encheu. ficou um deserto. culpa da voltas às aulas nas faculdades, de onde sai a fatia maior do público da casa.
de qualquer forma, nós somos os dub-operáriuzzzz e algumas almas generosas compareceram. pelo que penso e pelo que diz o código de defesa do consumidor, deveríamos tocar um show completo. a mesma apresentação para quinze mil pessoas, faríamos para as quinze.
e foi o que aconteceu. não durou duas horas, mas um pouco perto de meia hora. a galera que estava lá gostou e vi algumas pessoas cantando. também vi um casal se beijando. acho que nossa performance nessa ocasião foi muito boa, afinal estávamos vindo de dois shows seguidos. isso ajuda muito.
agora não sei quando haverá show. tomara que logo.
o que tem a daniela mercury com essa história?
ah!!!! quando ela apareceu fazendo seus shows de lambada (?!?!?!) a crítica falou muito de sua performance. não sei se cheguei a ler exatamente isso mas alguém escreveu que daniela fazia seus shows como se não fosse haver outro depois daquele, como se fosse o último show de sua vida. achei aquilo romântico e bonito. cheguei até a citar isso num show que fizemos no garage, no século passado. éramos ainda os corações e mentes, e tocávamos lambada, ragga, punk, ska, reggae. uma putaria só.
nessa ocasião, eu havia bebido antes do show ( coisa que não faço nunca mais) e minha pressão pareceu ter caído, me causando um mal-estar. comentando isso para a galera presente no show, citei a daniela mercury. ninguém deve ter entendido nada. quem não entendeu, por favor, esclareça-se agora.

6.8.05

outro mundo

clóvis rossi, colunista da folha de são paulo:
"não sei se outro mundo é possível mas sei que outro mundo é necessário e estamos condenados a procurar por ele".

4.8.05

"não queremos robôs"

mini-palestra da supervisora especialista:
"como vocês podem perceber, os índices de erro na operação estão subindo desde o começo do ano. e olha que nem fechamos este mês ainda".
mmmmmmmm!
"a direção está muito preocupada com esse aumento, pois como vocês sabem nós temos um contrato com a nave-mãe e esses índices são avaliados rigorosamente", primeiro bocejo.
"sendo assim, antes de fecharmos uma ordem de serviço é necessário conferir se esse mesmo serviço foi realmente atribuído ao terminal de telefone", segundo bocejo.
"é claro, que não queremos que vocês se certifiquem n vezes se o serviço está mesmo lá, como uns paranóicos! como se diz no movimento do tráfico de drogas: 'sem neurose!'. nós não queremos robôs! queremos gente consciente do que está sendo feito aqui. repetindo: nós não queremos robôs", terceiro bocejo e vontade de urinar.
"alguma dúvida???"
quero ir ao banheiro.
"bem, quero aproveitar que estamos juntos para comunicar que por determinação da nova presidência da empresa nós mudaremos nossa escala a partir dessa semana". ela faz uma pausa e olha ao redor. línguas se precipitam, braços se esfregam nas roupas, mãos procuram algum taco de beisebol ou congêneres.
"a presidência quer produção. é óbvio, né, gente? e nós temos que fazer a nossa parte"
olho para os seus culotes.

3.8.05

na casa da matriz

2.8.05

desabafo

o texto a seguir é de nelson burgos, a.k.a. nelson le rouix, dos nélson e os gonçalves.
faço côro a ele, mas, sinceramente, não sei o que fazer, além de continuar tocando e levando na cabeça, arrumando confusão com meu pai, expiar meus pecados na nave-mãe da telemar e sonhar (e batalhar ao mesmo tempo) por uma vida menos medíocre.


O Underground não é nada fácil. Só quem segue esta estrada sabe como é
montar uma banda, preparar repertório, ensaiar, ter um equipamento razoável,
gravar a primeira demo, correr atrás de shows, divulgar, fazer contatos,
muitas vezes brigar para defender seu ponto de vista, se infiltrar em vários
esquemas (muitas vezes fechado para quem não faz parte daquele ciclo
específico de amizades - “panelas” no bom sentido, é claro) e manter a banda
- que é a tarefa mais difícil.
São raras as condições de satisfação plena: tocar para um público legal, com
som e operador sérios, produção competente, divulgação na mídia e ganhar
alguma grana pelo seu trabalho.
A Cultura do “é dando que se recebe” é ferrenha. A maioria dos espaços não
oferece cachê e tampouco um “agrado” (cerveja, água ou uma ajuda de custo no
transporte).
A concorrência “sadia” é grande! São muitas bandas querendo tocar, poucos
espaços com estrutura e um certo aproveitamento da “mão de obra” barata -
como da galera que quer tocar a todo custo e em qualquer evento, por
exemplo.
O Rock agora é moda!!! Está na novela, no rádio, nas propagandas de
refrigerantes e supérfluos, na “molecada da escola” - que há bem pouco tempo
atrás estava aprendendo a tocar cavaquinho e tantan, montando grupos de “new
pagode mauriçola coreográfico”. Esses mesmos, agora montam uma banda de rock
e conquistam as gatinhas apaixonadas em seus condomínios fechados.
A CULTURA DO COVER NÃO RENOVA porra nenhuma e só enche a “bufunfa” dos
organizadores de eventos de “Rock do Momento”. Acreditamos que tocar o cover
seja necessário.Dá uma certa aquecida no show!Qual banda que ao tocar um bom
cover não levantou uma platéia?A galera participa e presta mais atenção na
banda, é um fator positivo.Agora explorar o máximo este filão é
sacanagem!Quantos espaços legais são ocupados por este tipo de evento que só
servem para VELAR A PRODUÇÃO INÉDITA?Dizer que não existem bandas boas é
mentira! Basta circular pelos eventos e constatar bandas com som de
qualidade em todos os segmentos do ROCK.