23.9.05

é proibido se jogar pela janela

às vezes, alguma coisa pode dar errado na nave-mãe dessa empresa telefônica. bem, estou sendo até condescendente demais, as coisas estão sempre dando errado e a fila de reclamações na anatel e procom vai aumentando e os gestores ganhando placas de gordura nervosa em suas coronárias. é nessas horas que a gente manda aquela do leão da montanha: "saída pela direita" e sai saindo. meto r$ 0,45 na vending machine e colho um pouco de cocaína preta de trabalhador diluída em água quente. desço para o entrepiso, um andar fantasma entre o quarto e o terceiro andar, onde fumantes se refestelam, famintos se satisfazem, casais copulam e a turma da limpeza zanza. sento no parapeito e sorvo meu café. na minha frente, após toda a geografia de santa teresa, está ele lá longe em cima do morro. faço uma promessa idiota: "quando for demitido e ganhar 100 mil reais de indenização, subo o corcovado de joelhos e me posto em frente ao cristo para agradecer a graça". estou quase assinando mentalmente minha promessa quando o guarda lá embaixo me chama a atenção. "ô num pode sentar aê não!". nessas horas a gente finge que é surdo para ganhar mais um tempo. os lábios dele continuaram se mexendo. eu mesmo tentei emular sua fala: "tá surdo porra? pra entrar aqui você num fez exame audiométrico?!?!?". "fiz sim!", gritei de volta, " com um cagaço danado, tanto que minha pressão arterial subiu". o vigilante não entendeu nada. vi, então, que ele pegou o rádio. de qualquer maneira, o que faria o estatuto do prédio nos impedir de sentar no parapeito? eles devem desconfiar que todos aqui devem andar com as cuecas metidas no rêgo. talvez saibam que a qualquer momento a altura do segundo andar pode nos seduzir e nos convidar para um vôo, uma fuga. já estava no banheiro e tentava sentar meu capacete de cabelo, quando dois guardas e um cara de terno e gravata entram perguntando se era eu que estava sentado no parapeito, bebendo café. porra, essa não! encrenca com a segurança do prédio? podia fingir que era japonês - aqui no prédio tá cheio deles - e mandar um "sorry, io no hablo globish!" e sair saindo de novo. ou então partir pra cima deles ao som de "fucking in the bushes" do oasis, como se estivesse num filme do guy ritchie. eu quebrava o nariz do primeiro e mandava uma joelhada na boca do estômago do segundo. o terceiro, justo o de terno, ia ser na sorte. mas lembrei que todo dia quando chego dou boa tarde a eles. às vezes, até me respondem. isso não ia ter graça. no hospital ou no xadrez, dali a umas horas poderia me remoer em culpa, com pena deles. continuamos naquele impasse. fiquei em silêncio olhando para eles com minha cara de panaca. ou de babaca. um deles ia se exaltar quando escutamos gemidos atrás do biombo do banheiro.
o de terno se apressou em perguntar o que estava acontecendo enquanto se aproximava da cabine. (continua)

12.9.05

tijuca

mais um show dos djangos. que beleza!
aproveitem!

6.9.05

em jacarepaguá

4.9.05

camilla pitanga fez um carinho nas minhas costas

olha, eu não muito de babar ovo de ninguém não, pagar pau e tal, mas há certas pessoas por quem eu tenho profunda admiração. na segunda década de 90, surgiram planet hemp (na época com o skunk nos vocais), acabou la tequila, funk fuckers, beach lizards, poindexter, piupiu e sua banda, gangrena gasosa, entre várias outras como o rappa. jj aquino, nosso baterista conheceu marcelo yuka, baterista da incipiente banda, na rua ceará, justamente num show do planet. depois dessa ocasião pudemos estar com o cara várias vezes, e ele chegou a produzir, junto com kamal kassin, guitarrista do acabou la tequila, nossa demo, intitulada "concrete django" , que acabou nos levando a um contrato com a emi-odeon, para que gravássemos a coletânea paredão, de 1996. yuka tinha uma personalidade muito magnética, era engraçado pra cacete e gostava de várias coisas dos quais a gente também gostava. além disso, era um suburbano que nem a gente, criado em campo grande e morando na tijuca.
nessa sexta-feira (02/09), yuka fez o que foi praticamente o primeiro show com sua nova banda, o f.ur.t.o., aqui no rio. o palco foi o do circo voador, onde em 95, ele foi ver um show dos kamundjangos, abrindo para o mundo livre s/a. "sangue audiência", o primeiro disco dos caras, eu ainda não digeri muito bem, mas junta vários elementos que me atraem muito, como as programações, as repetições do dubwise, as baterias eletrônicas, os timbres de teclados velhos e todo o clima, tudo costurado de uma forma que me deixou intrigado com todo o processo. e tudo isso ao vivo eu não poderia perder mesmo.
quando cheguei pensei que o público seria pequeno, mas estava cedo ainda, mostrando que eu perdi totamente a noção de como as coisas andam aí pela noite.
bem...
depois da banda de abertura, mpc, responsável pelos dubs ao vivo, e fundador do digital dubs, fez desfilar uma série de reggaes com o grave no talo. uma delícia. até hoje eu não vi o digital dubs em ação. tô mais por fora que pau de tarado. por isso foi bacana ver o velho mpc em ação com seus disquinhos compactos e apertando botões, junto com o dubmaster, uma cara que possui uma toca com um volume gigantesco dentro que não sei se esconde dreads ou o próprio cérebro expandido durante as sessions.
quase duas da matina (coitados do meu esporão calcâneo e da minha osteoporose), aí anunciam a entrada do f.ur.t.o. mpc e damien, que foi assistente de estúdio no disco raiva contra oba oba, sozinhos no palco, manipulam uns briquedos que fazem sons bacanas e dão um clima science à parada. uma galera fanática se achega para perto do palco gritando por yuka e por outros integrantes, que vão entrando pouco a pouco. "calibre 12" é o primeiro número e põe todo mundo para cantar (e cantaram mesmo) e dançar. um grave fudido de gostoso para ouvir. maurício pacheco, frontman acusado de ter uma voz parecida com a do falcão, do rappa, se sai melhor do que eu poderia imaginar e tira uns timbres muito bons de sua guitarra. jj aquino o acusa de tentar imitar philippe seabra, guitarrista da plebe rude. já falei para ele parar de se drogar.
fico intrigado com o mistério das programações. de onde elas partem? os bumbos graves são tão presentes. garnizé e jam da silva, eu posso escutar o que eles fazem no meio do bolo todo e bota bolo nisso. num intervalo de uma música, yuka diz que entrava no circo de antigamente, pulando a cerca junto com um monte de esfomeados sem dinheiro- num esquema que ficou conhecido como ratão, e que nessa noite ele fez questão de entrar no circo do mesmo jeito. não entendi muito o que ele quis dizer. em seguida, mandou as pessoas que desfilam de branco em manifesto pela paz pela orla da zona sul tomarem no cu (nesse momento mpc poderia ter posto um delay na voz de marcelo) e declarou que queria ver essas mesmas pessoas fazerem passeata na vila cruzeiro, na zona da leopoldina carioca. a pista aplaudiu e urrou em sintonia.
em determinado momento, alguém faz uma carícia nas minhas costas, como se estivesse me chamando. pensei que fosse alguém que eu conhecesse e que quisesse ficar ali comigo para ver o show. e realmente eu conhecia mesmo. era a camilla pitanga com a maior cara de fumada querendo passar para ficar mais perto do palco. há há, essa foi boa, hein???

por falar de mulher, o f.ur.t.o. tem uma menina chamada marion que toca teclados ou finge que toca, sei lá e canta também. no disco, há a participação especial de marisa monte na faixa "desterro". no show como não teve marisa monte, coube a marion fazer sua parte. e aí a menina fez bonito e me chamou a atenção.
bnegão fez sua participação especial e foi apresentado como pessoa muito importante na vida musical e social de yuka. cantaram uma versão de bob marley. sinistro que nem a fumaça de bernardo.
a certa altura não suportei mais a sede, a fome e as dores na coluna e na planta dos pés e me retirei. sentei na cadeira e o show acabou.
nos camarins, dona luísa, mãe de yuka me abraçou e me chamou de "meu cantor favorito" embora nunca tenha me visto cantar. foi muito bom ter visto ela. parecia que ela estava feliz, tanto o yuka parecia estar. cinco da matina chego em casa. dali a três horas acordaria novamente. ê vida de gado.