26.6.04

ansiedade que nunca passa

sábado desse, céu azul, e presos estamos nas baias feitos cavalos controlados e controladores...

23.6.04

tomando banho

domingo passado, enquanto estávamos esperando o fim das mixagens de nossa nova música, nos estúdios da rio música em botafogo, joão aquino foi tirar lá do fundo do baú, episódios tenebrosos dos tempos em que ainda tínhamos coragem de encher a cara de qualquer goró. não sei se a qualidade desses episódios é mesmo tenebrosa. no mínimo são constrangedoras conseguindo até carregar um tom misterioso.
e o pior de tudo é que um dos personagens envolvido era eu.
joão lembrou justamente de um dia em que alex carvalho, um amigo a quem eu apelidara secretamente de alex rimbaud, me dera banho. bem, com esse apelido era de se temer que esse banho fosse realmente comprometedor.
era natal e eu tinha enchido a cara de vinho. fiquei doidão. perdi o juízo. dei cambalhota na salinha de visitas, quase quebrei a mesa de vidro da dona icléa.
deve ter sido ela que mandou o alex me dar banho. eu já não tinha discernimento e o pior: não conseguia me expressar através das palavras. quando eu abria a boca era um "ooooooogh", "srrrrruntf". não conseguia falar: "não! eu não quero que me dêem banho!" assim, nessa crise, fui levado para debaixo do chuveiro, despido e depois disso não lembro de nada. alex se recusa a dizer o que aconteceu. dona icléa diz que cuidava da limpeza da casa.
engraçado é que joão lembrou que alguns outros bebuns haviam tomado banho também dado por seus companheiros (nada a ver com co-habitação). e novamente eles não tinham como se expressar. ficaram grunhindo e também não lebravam de nada.
nessa horas o pessoal em vez de traqüilizar, bota mais terror ainda na gente. não sei quem foi, mas teve gente sugerindo que essa galera fundasse uma associação de vítimas do banho compulsório.
como dizia o velho uruca da tijuca, mó falta de colegolismo.

22.6.04

Capoeira

"Se você pegar aquele neguinho ali, ganha vinte pontos comigo!!!"
Era minha primeira aula de direção. Eu, ruço feito um missionário finlandês e o instrutor já me solta uma dessas. Fomos em frente.
"Derruba o tabuleiro de acarajé. Puta que pariu, ali deve tá um cheiro! Há há há!!!"
Minha mãe verdadeira me abandonou na porta de uma instituição de caridade, um pouco depois de eu ter nascido. Ela deve ter pensado que eu ia me dar bem mas aquilo não era nenhum orfanato. O Juizado de Menores me mandou para uma fundação, onde , por motivos claros, todos me conheciam, do diretor até o coleguinha mais remelento. Um monitor me botara o apelido de Mariposa de Manchester porque no refeitório eu podia ser notado facilmente no meio da negada. Por conta desse patronímico , as porradas aumentaram um pouco mais. Apesar de quase albino eu não deixava a coisa ficar tão preta assim. Eu também batia e era problemático.
"Porra, galeguinho!!!"
"O quê?"
"Se o sinal não tivesse fechado, tu passava em cima desse macaco velho aí, hein?! Bônus de 35 pontos!!!"
Um dia uma organização não-governamental começou a patrocinar aulas de capoeira no pátio interno. Tive que arrumar uma confusão para poder ver mais de perto a roda. Donos de uma ideologia inconsciente e empírica, os meus coleguinhas não queriam que eu participasse de nenhuma forma daquilo, coisa de preto, mas eu ferrei com alguns deles e consegui ver. Eu fiquei maluco. Os caras da capoeira voavam, pareciam não pesar nada. Caramba! Parecia um circo. Perguntei para mim mesmo se um dia eu poderia fazer aquilo. Do nada, eu juro por Deus e por São Jorge, eu escutei uma voz de mulher dentro da minha cabeça: "claro que pode". Fiquei bobo. Não era a voz da assistente social, a Inês, que volta e meia andava por lá.
De repente todo mundo ficou atônito. Uma mulher mais velha entrou na roda e derrubou todos os lutadores. Um rabo de arraia para um, um martelo para outro, uma armada para o de cabelo rasta, um aú no careca e o serviço estava terminado. Todos uns negrões fortes prá caralho. A demonstração havia terminado. A mulher, negra, forte e linda, passou por mim rapidamente. Sem abrir a boca ela me fez saber que me queria ali quando as aulas começassem. Como era possível? Eu lia os pensamentos dela e ela os meus. Uma mão posou no meu ombro, grande e grossa. "Quinta feira." Era um dos capoeiristas. Ele olhou nos meus olhos. Seus lábios. Sua boca. Sua língua. Imóveis. "Irmão."
"É ruim desse carvão pegar brasa, hein?!?!?!?" O instrutor engasgara de tanto rir. Nós acabávamos de passar por Rosa que abanava seu filho mulato por causa do calor. "Olha o meio fio, garoto!!!"
Aqueles capoeiristas formavam uma família. Todos eles sob a égide da matriarca Maria José da Conceição, a Mestra Zeza. Um tempo depois das aulas começarem e eles terem me posto nos eixos, eu estava fazendo parte do grupo. Não sei se por pena, se por amor, desejo de domar o meu peito cheio de revolta ou pelo meu talento de telepata, dona Maria havia me adotado, assim como havia feito com alguns no grupo.
Aquela capoeira era a soma de várias tradições que haviam perambulado por Serra Leoa, Salvador e Macau, na China. Essa última paragem talvez explicasse a bizarra capacidade telepática - supostamente detida apenas pelos ninjas - que os seus raros conhecedores possuíam. O clã de Mestra Zeza era uma ponta de lança afiadíssima daquele estilo obscuro de capoeira e eu, apesar de não saber como era capaz de fazer aquelas coisas, vinha fazendo parte dele há dez anos, como irmão e como filho.
O instrutor, esbaforido, me mandou encostar o carro atrás de um Fusca. Muito fácil. Saltamos e ele veio me falando que na próxima aula nós iríamos botar para quebrar e que eu poderia passar a quarta. Meus irmãos estavam enfileirados um pouco mais à nossa frente. Um exército. Mestre Focinho. Fio. Pata de Vaca. Nêgo. Verniz . Bola. Jackson. China. Grilo. Gazú. Bento. Careca. Zuza, esse com sua mulher, Rosa e o seu filho. Postada na parte do meio, como um técnico de futebol, Mestra Zeza. "Eu amo todos vocês. E você, mãe!" Entre mim e eles, como um fio de telefone, o silêncio.
Voltei-me para o instrutor, mais branco que eu. "Quando é o próximo treino?"
"S-s-segunda feira!"
Fomos embora, descendo a ladeira, rumo ao Pelô.

terceiro mundo sound system

"djangos sound system
vamu agitar, fubuco*!!!
salve simpatia
vamu ganhar o mundo!"

*fubuco - em 1992, estive na cidade natal da minha mãe, que se chama brejo dos anapurus, e fica no sertão maranhense. lá conheci um cheirador de loló gente fina. chamavam ele de cabeça. realmente, o cara tinha um problema de nascença. as perninhas finas. o crânio avantajado. a loló não teria promovido aquela mutação. falava besteiras o tempo todo, ria das minhas piadas e me escutava tocando violão!
uma vez estava o pessoal reunido na barriga da tarde, no maior ócio improdutivo, nas sombras das árvores. aí passa a edília. até uma cidade pequenininha, que nem aquela, produz os seus loucos, daqueles tipo "doutor eiras", catatônicos, perdidos. a edília era um deles. zoar com esses tipos ou relinchar junto com os cavalos era tudo que nos restava, um bando de desocupados.
cabeça pega o pedaço de pau e finge que está com um microfone na mão. imita o chato do galvão bueno. "bem amigos da rede globo, estamos aqui no bairro fubuco do brejo..." a galera cai na gargalhada. ele apresenta a maluca de longe e diz que
ela é uma "mulher sexual" (sic), uma saboeira, que transa com outras mulheres, e daí pra baixo. delírio geral. baixaria inocente. e eu lá rindo daquela merda.
mas, então! ficou na minha mente a palavra fubuco, sonora.
tava fazendo um reggae hoje e me veio à cabeça, vamu levantar fubuco. sleeping villages, cidades esquecidas, uprising ecumênico. coisa boba.

parece engenheiros do hawaii???!?!?!?

os djangos acabaram de gravar a música de campanha da FASE, uma ong, a qual joão aquino, baterista, é bastante próximo. a campanha é sobre os direitos sociais enumerados um a um lá na constituição federal(ih! iniciais em maiúsculo!), nos vários incisos do art. 6º. pode ir lá ver.
acabei de mostrar a gravação pro colega ao lado aqui da baia. "parece engenheiros do hawaii!!".
caraca!!!!

o que é colação???

"é o que você come entre uma refeição e outra".
"odeio gelatina! vou ter que passar a gostar".
é a colega que inicia um regime. nos bastidores, alguns a chamam de wilza carla, uma atriz que explodiu numa novela(saramandaia, bons tempos!) e que eu sempre via como jurada de programa de calouros.
eu quis até ser agradável. devo ter forçado a barra. sinceramente.
"mas pra quê isso???".
o cara do lado riu. sabe? aquelas risadas que se o cara estiver encatarrado, sai muzzarela pelo nariz!
a mulher ficou olhando pra minha cara. mordi o meu lábio. subi as sobrancelhas.
um dia eu aprendo a falar a coisa exata no momento exato.
valeu gente!

começando

apenas um descarrego psíquico. por quê??
aqui na baia. uma ânsia permanente. algumas historinhas.
realidade prolongada e distorcida. o que eu queria fazer e não fiz!
mó barato!!
vamos nessa!