9.6.06

dança da mãozinha ou rejeição

dia desses, acordei inspirado(!?!?!!?). como no djangos precisávamos de um release mais "acessível" e "compreensível", para que a agência de shows, com a qual trabalhamos agora, conseguisse mais shows pelo brasil afora, escrevi esse aqui, ó:


djangos

combinado suburbano, oriundo do oeste selvagem do rio de janeiro, que traz no seu bojo cores, polaróides do cotidiano, vibrações positivas e grooves do reggae-dub, inquietação do rock, eletrônicas hipnóticas, canto falado do rap e melodias emocionadas (e o que mais agradar ao trio, pois não há regras nem compromissos com nenhum estilo).
não se trata simplesmente de uma banda, mas sim de um projeto de amor e luta que já dura anos. estamos na área (isso ficou brega).

jj aquino: bateria, percussão e mp3 player
lyle diniz: baixo
marco homobono: microfone, guitarra e fruityloops

bibliografia: paralamas do sucesso, cidade de deus, the clash, os trapalhões nas minas do rei salomão, mano negra, pergunte ao pó, police, raggamuffin, jorge ben, guitarras vagabundas, asian dub foundation, futebol-arte, baixo no estômago, sublime, rubem fonseca, subwoofers do dj malrboro, beatles, pedais de delay, darcy ribeiro, softwares crackeados, frank miller, antidepressivos naturais, roberto carlos, samba, felinni, trip hops ensolarado, amplificadores valvulados de mentira, viagens de ônibus, sincretismo, ecumenismo, tolerância, biodiversidade, soulseek, reunião de espíritos amigos (a lista continua...)


aê, xande, nosso rufião, mandou essa:



Legal dedé,
Mas pra show, esse tipo de texto fica difícil...
O pessoal do interior num entende muito isso...
Podemos deixar o que ta e complementar com um paragrafozinho mais
"normal" e falar que tocamos músicas sertanejas (????).
Esse a gente usa pra show nas capitais (Rio, SP, MG,etc), pra shows que
a gente sabe que quem ta recebendo vai entender.
Outro, para o interior, a gente envia com o complemento. O que acha ?

Abs
Alx


músicas sertanejas???
há muito tempo os djangos se meteram na mó roubada. fomos contratados para animar um baile lá em miracema, interior do rio, quase seis horas de viagem. imaginei: vamos arrebentar. imaginei também cenas como o prefeito da cidade nos recebendo e até poder sentar no júri para a escolha da garota miracema.
nada disso aconteceu, é claro. foi mais um bovarismo da minha parte.
terminando de passar o som no clube, ficamos de bobeira e fomos nos divertir na praça vazia. a cidade era pequena. nada para fazer, mas na época o time era grande com flávio corrêia(dkv) e maico lopes, respectivamente, trombone e trumpete, nos acompanhando, além de luciano holyfield, como nosso roadie, e isso garantia um monte de gargalhada.
ao adentrarmos no clube novamente, vimos que a casa estava cheia e as pessoas animadas. mó astral. mas um pequeno detalhe preocupava: a animação tinha como pano de fundo é o tchan!, tchakabum, só pra contrariar, tchaka tchaka na butchaka (que canção eles tocavam mesmo, hein?), as gostosinhas e coisas do gênero.
nos entreolhávamos e dividíamos a esperança de que a próxima música começasse uma sessão com paralamas, cidade negra, leftfield, skank, titãs, os incríveis ou algo mais próximo ou que pudesse "introduzir" o som dos djangos na massa de cambuci e adjacências.
os minutos escorregavam e mais uma vez a galera se animava com a dança da mãozinha. no calor do momento até eu dancei e achei aquilo divertido. e as pessoas ao redor mais ainda porque não é todo dia aparece alguém na cidade com problema de psicomotricidade, já diagnosticado por uma junta de neurologistas e coreógrafos.
é, mas a diversão tinha que acabar porque chegava a hora da grande atração da noite: os djangos.
expectativa geral. por um momento ganhei o poder da telepatia. pude ler o pensamento de pelo menos sete pessoas. uma quase unanimidade, perguntavam-se qual era a nossa dança. só uma pessoa mentalizou rios e cachoeiras, devia estar com vontade de urinar.
o que veio depois foi o maior constrangimento. os discípulos de specials, operation ivy, mano negra e clash não agradaram e provocaram a evacuação do salão e no salão, visto que cagaram pra gente. lembro que um sujeito, sentado numa mesa com a amante e um casal de amigos, fazia gestos amigáveis. momentos antes, ele havia entregado um bilherinho para o garçon. estava escrito: "dança da mãozinha". reclamei com holyfield, nosso roadie, e ele me perguntou "quer que apague o cara?", ou algo parecido, não deu para escutar direito.
é como o galvão bueno diz: "um dia da caça, outro do caçador".
findo show comemos nossas salsichas fritas, que eram parte do cachê.
eu havia perguntado pelo meu quarto de hotel e o mesmo xande apontou a van que nos trouxera.
pegamos a estrada de volta na maior lombra.

7.6.06

meus amigos, os xis men


acabei de reencontrar velhos conhecidos meus. antigamente, eles atendiam pelo nome de professor x, logan, scott, jean, ororo, piotr rasputin, banshee, kurt, kitty, hank...hoje estão badalados e são estrelas de hollywood.
reencontrei-os em x-men 3 - o confronto final, filme que deve dar cabo à série no cinema.
quando os conheci, estava no ginásio (o hodierno nível fundamental) e enlouqueci com as histórias escritas por chris claremont e desenhadas pelo incrível john byrne. naquela época, também descobri o demolidor desenhado por frank miller e esses personagens eram meus heróis favoritos.
peguei os x-men (eu pronunciava xis mein) na melhor época: quando a jean grey, na sua reencarnação fênix negra, morreu. a primeira história que caiu na minha mão trazia justamente o seu funeral. a capa dessa revista (se não me engano se chamava "superaventuras marvel") trazia a reunião da primeira e segunda geração dos xis men ao redor da lápide de jean. no decorrer do funeral, scott summers, o ciclope, que era seu "viúvo", revisitava, em flashbacks, os episódios pessoais e coletivos mais marcantes dos mutantes. esse período de lembranças trazia desde a primeira seleção com garota marvel, ciclope, anjo, fera e homem de gelo, até a última e mais famosa seleção, com tempestade, noturno, colossus, banshee e, é claro, o mais fodão de todos, wolverine. garota marvel e ciclope, remanescentes da primeira geração, atuam com líderes do grupo. bem, se estou esquecendo de alguém me perdoem, pois esses eram os que mais apareciam nas histórias que eu acompanhei.
as lembranças de ciclope, nesse momento de dor e luto, só aguçaram minha curiosidade, me forçando a catar todos os gibis antigos que conseguisse encontrar nos sebos por aí. pude, então, acompanhar a saga do clube do inferno, que culminaria na morte de fênix (jean grey). e tudo aquilo me emocionou muito.
foi uma época muito boa, mas depois que chris claremont e john byrne pularam fora do xis-men eu fui com eles. não sou íntimo de gambit, jubileu e os outros que vieram depois e que apareceram nos desenhos da televisão.
essas adaptações que hollywood faz para os heróis em quadrinhos, deixam os entusiastas sempre com o pé atrás. como não sou radical e tampouco cinéfilo erudito, consegui me divertir com os três filmes que foram produzidos.
o primeiro achei um pouco vago e bobo. explicar a origem de todo mundo em pouco tempo de filme é tarefa dura. mas ver halle berry no papel de tempestade foi covardia. nos traços finos de john byrne, ela era uma verdadeira deusa africana, oriunda do egito. na fita, ela está poderosa e turbinada. o início com o jovem judeu magneto no campo de concentração nazista também valeu a pena.
o segundo é meu favorito. vibrei com aquelas cenas espetaculares de teletransporte do noturno. ainda mais naquela do avião, quando ele vai resgatar em pleno ar, se não me engano, a vampira.
disseram que o terceiro filme tinha mais pancadaria que cérebro, e eu tenho que concordar. mas isso não afetou a qualidade da fita. surge uma porrada de mutantes. vários deles anônimos, como os caras que levam tiro em filme policial e por quem ninguém vai chorar (a não ser nos filmes do austin powers). esse excesso atrapalha um pouco, pois nos quadrinhos, um bom time de cinco ou seis mutantes já fazia um estrago danado.
uma coisa que me ficou mais explícita nesse episódio mais novo foi o fato de que as histórias dos x-men funcionam como uma metáfora de problemas sociais muito atuais, como homofobia e racismo. isso fica muito claro quando tempestade, ao saber que os mutantes foram agraciados com a descoberta de uma "cura" genética, protesta dizendo que não é doente. há manifestações populares contra a "cura", que são o posicionamento "cuspido e escarrado" do movimento gay.
a wikipédia chama a atenção para a semelhança da questão dos mutantes com a luta pelos direitos civis dos negros estadounidenses, na década de 60. o professor x encarnaria uma versão martin luther king, enquanto magneto seria o malcom x. bela analogia.
é por essas inspirações no cotidiano de pessoas normais que a marvel, empresa criada por stan lee e jack kirby, que produz as histórias, sempre fez sucesso.
o homem-aranha, que teve duas ótimas versões para o cinema, é o maior exemplo.

6.6.06

como ser prolífero de verdade

meu pai renovou, sob minha torcida contra de mentirinha, sua assinatura da revista "veja" (que deveria se chamar "acredite").
nessa semana, a revista traz uma "simpática" matéria com (desculpem minha ignorância) gabriel chalita, que já foi secretário de educação de são paulo (deve ser muito querido por lá). a matéria ressalta que chalita é um prolífero escritor e que agora enveredou pela música (caraca, mais um concorrente!). tão prolífero que escreveu três músicas numa mesma noite. ainda por cima, sentado na mesa de um restaurante chique de sampa. isso não é nada para ele, que escreveu um livro em três dias.
já havia relatado aqui que uma vez o kassin, do acabou la tequila, em visita a carlinhos brown em salvador, viu que o cara tinha feito quatro músicas no mesmo dia. cada uma diferente da outra.
humildemente, esse post serve para dizer que hoje fiz três músicas (som de aplausos). detalhe: todas iguais (vaias).
comecei com um rascunho de rap, que por enquanto se chama "investimento (sobreviva ou morra tentando)", homenagem ao 50 cent, com quem estou puto. a letra fala sobre aperto financeiro - situação pela qual estou passando, e toda a estrutura que orbita nossos débitos. trecho:

"os gurus insistem em dizer
se vai investir amanhã já é hora errada
o meu último investimento
foi na quarta passada
três reais na megasena que estava acumulada(...)"

daí passei para o punkrock, num petardo com nome de "ataqqque!". a letra fala sobre aperto financeiro - situação pela qual estou passando, e toda a estrutura que orbita nossos débitos, como o incentivo ao consumismo. trecho:

"mp3 player
frascos de antidepressivos
promoções de laptop
remédios antireumatismo

se abaixa
que é ataque
lá vem bomba(...)"

e terminei no samba triste. citando o nome do disco da festejada banda inglesa hard-fi, "stars of cctv" (cctv pelo que consta é o sistema de seguranças com câmeras por toda a parte, dedurando geral nas ruas de londres). na cara-de-pau escrevi "estrela do circuito de tv". a letra fala sobre aperto financeiro - situação pela qual estou passando, e toda a estrutura que orbita nossos débitos. trecho:

"um dia ela foi estrela
dos circuitos de tv da C&A
e eu que era o segurança
por estar apaixonado
deixava ela roubar
ela era tão gostosa
mas não tinha guarda-roupa
e tinha que brilhar
meu deus do céu!
por que foi acontecer???
ela lá furtando as coisas
eu obrigado a prender
meu deus do céu!
é uma paixão que não tem cura
hoje mesmo eu chego junto
e aplico uma dura (...)"

pois é, daqui a dez anos, talvez vocês escutem essas pérolas no rádio, ou quem sabe, baixem no soulseek ou no emule, ou até mesmo em www.dedeakahomobono.com.br. é pagar pra ver.
quer dizer, nem precisa pagar.

5.6.06

só falam merda!


quem tem netcat ou paga em dia as mensalidades da companhia de tv a cabo net, pode ver no canal multishow, o programa de clips tvz. todas as músicas estrangeiras (em inglês, na sua maioria esmagadora) vêm com legendas com a tradução das letras para o português. bem, isso nem é novidade, né?, visto que a mtv faz isso devez em quando e até a 98 fm também, com o locutor de voz grave em tradução simultânea dos mela-cuecas imortais.
é uma tremenda mão na roda para quem tomou a sopa do brizola, do moreira franco, marcelo allencar e do garotinho mas não aprendeu nada além de "perdeu", "yes", "ninguém merece" e "i love you", além de não ter aproveitado aquela bolsa do curso de inglês que visitou a escola naquela tarde enfadonha de setembro. como tô nessa, eu aproveito para ver o que é que esses "rappers" sem camisa e com correntes douradas no pescoço dizem todo santo dia. apesar de dedé aka homobono já ter declarado que preza mais a musicalidade de uma canção do que letra propriamente dita (lembre-se que ele cometeu um tal de 'chique chique chique tô de minissaia'), é difícil aturar o que 50 cent, ja rule, nelly e adjacências cospem na sua verborragia. se não é sacanagem de quem traduziu, é sacanagem de quem escreveu as pérolas (aliás, isso não é exclusivo desse hip hop mainstream, é bom frisar).
ter que escutar fulano dizer que é o melhor, que as garotas ficam todas molhadas quando o vêem, que os carros são assim e assado e não sei mais o que é dose. dose pior é perceber que são esses caras que estão na crista da onda nos eua e influenciam a petizada com todo esse discurso de ostentação e materialismo.
há uma cena em "crash", filme de paul haggis ganhador do oscar, em que dois caras negros discutem acerca do rap. um deles, em tom de teoria conspiratória, diz que o hip hop foi invenção da cia para idiotizar os negros. o outro replica sintonizando o rádio numa estação em que toca um blues antigo e começa a cantarolar a letra, tão idiota quanto o rap de antes. é engraçado, mas descontando a ingenuidade do blues e vendo tvz, dá até para concordar com a tal teoria.
onde estão os bons letristas de rap americano?
os caras do cannibal ox?
o incensado nas?
jay z?
krs one?
não sei porque não entendo nada do que eles falam e mesmo lendo as lyrics pescadas na internet, fico boiando, apesar de ter pistas de que eles falam coisas melhores. mas a mesma tvz, que traz más notícias, tem exibido os clipes de um tal kanye west.
esse cara se apresentou no último festival coachella, o que já serve como boa referência.
é a luz no fim do túnel? não sei não! mas a tradução para português de "touch the sky" (clipe muito bem feito) empolga.
vale uma conferida.